Sabemos que a Sagrada Escritura é o maior
documento e prova da revelação divina para nós cristãos, pois nela estão
escritas as leis, ensinamentos, exortações, os milagres e prodígios do Senhor e
muitas outras coisas que são para nós um alimento de fé.
“Os livros da Escritura ensinam com
certeza, fielmente e sem erro, a verdade que Deus, para nossa salvação, quis
que fosse consignada nas sagradas Letras. Por isso, «toda a Escritura é
divinamente inspirada e útil para ensinar, para corrigir, para instruir na
justiça: para que o homem de Deus seja perfeito, experimentado em todas as
obras boas» ( Tim. 3, 7-17 gr.).”(Dei
Verbum, 11).
A Bíblia não caiu pronta do céu, nem Deus a
ditou a escritores inconscientes, mas “para escrever os livros sagrados, Deus
escolheu e serviu-se de homens na posse das suas faculdades e capacidades, para
que, agindo Ele neles e por eles, pusesse por escrito, como verdadeiro autor,
tudo aquilo e só aquilo que Ele queria.” (Dei
Verbum, 11). Os livros presentes na Bíblia são de inspiração do Espírito
Santo que, usando de seus profetas, reis, sacerdotes e apóstolos, escreveu os
73 livros que de principio tiveram de ser aceitos pela Igreja Católica,
existindo assim um consenso entre as comunidades cristãs do século IV para que
fossem fixados no Cânone das Sagradas
Escrituras.
É importante lembrar que a Bíblia (do
grego biblios = livro), apesar de ser
tantas vezes usada como livro histórico, não transmite uma precisão a cerca da
história e nem de conhecimentos científico-naturais, pois cada autor vivia
conforme seu tempo e de acordo com o modo de viver do povo judeu da época. Mas
tudo aquilo que nós seres humanos precisamos saber acerca de Deus está, sem
dúvida, descrito nas Sagradas Escrituras desde a criação às primícias da Igreja.
É na bíblia que o Senhor Se revela amoroso e compassivo, por isso “A Bíblia é a
carta do amor de Deus dirigida a nós.” (Sören Kierkegaard, filósofo).
Por ser então a Escritura uma carta de
amor, devemos acolher seus textos com muito zelo e amor, pois se você ao
escrever uma carta para alguém com muito carinho, soubesse que este alguém
desprezou suas palavras, certamente não ficaria feliz. Saiba que Deus também
não fica feliz quando desprezamos ou zombamos de Suas palavras, pois assim como
um jovem apaixonado escreve cartas de amor para sua amada, Deus escreveu cada
letra pensando em cada um de nós de forma pessoal, com e por amor. “Portanto
devemos ler as Sagradas Escrituras com a mesma fé viva da Igreja em que elas
surgiram.” (YOUCAT, 16).
No Antigo Testamento (do latim testametum = legado), que é formado por
46 livros, Deus Se mostra como o Criador de tudo que existe e como guia, sustento
e educador do mundo. Nele o Senhor começa seu plano de salvação para nós, que se
cumpre no Novo Testamento. Além disso,
os livros da Antiga Aliança são de grande riqueza em orações, profecias,
ensinamentos e também nos salmos que são usados ainda hoje nas orações e
celebrações diárias. “A Igreja sempre rechaçou vigorosamente a ideia de
rejeitar o Antigo Testamento sob o pretexto de que o Novo o teria feito
caducar.” (CIC 123).
Nos primeiros séculos cristãos surgiu
na Igreja uma seita que foi denominada de marcionismo, estabelecida por
Marcião de Sinope (110 - 160 DC),
que seguia preceitos e ideologias gnósticas. Esta doutrina logo se espalhou
pela Ásia Menor e antiga Roma, mas foi considerada herética e seu fundador foi
excomungado no ano de 144 DC. A seita rejeitava o Antigo Testamento e o julgava
como ultrapassado, assim, pregando a existência de dois deuses distintos, um no
antigo e outro no novo testamento. É importante que nós, Cristãos de hoje,
conheçamos tais episódios para que não caiamos na mesma heresia que Marcião,
pois há um só Deus e uma só escritura que é composta por Antigo e Novo
testamentos.
O Novo Testamento, por sua vez, é composto
por 27 livros que vêm completar aquilo que estava no antigo. É nele que estão
os quatro evangelhos, que são o coração da Sagrada Escritura, pois é ai que
Deus se mostra como é, e como veio ao nosso encontro no Seu Filho. Os Atos dos
Apóstolos mostram aquilo que era a Igreja primitiva que vivia na caridade e na
potência do Espírito Santo. As cartas apostólicas vêm como reflexo da luz de
Cristo para iluminar o homem em todas as suas dimensões. E, finalmente, o
Apocalipse de São João nos ajuda a antever aquilo que será o fim dos tempos.
“Toda a Escritura divina é um único livro, e
este livro único é Cristo, já que toda Escritura divina fala de Cristo, e toda
Escritura divina se cumpre em Cristo.” (Hugo de São Vitor, Noe 2,8 In CIC 134).
Nesta frase tudo se resume e, mais objetivo ainda foi São Jeronimo ao dizer:
“Desconhecer a Escritura é desconhecer Cristo.” Ou seja, para conhecer a Jesus
é necessário fazer a experiência da leitura e meditação dos Sagrados textos
Bíblicos, tentando assim escutar a voz do próprio Cristo, pois como São
Francisco de Assis disse: “Ler a Sagrada Escritura significa pedir o conselho
de Cristo.” Aí então, voltamos àquela carta de amor, onde o autor não só ama,
mas educa, ensina e fortalece, pois Jesus é sem dúvida o maior conselheiro para
qualquer situação.
Para
a Igreja de Cristo as Sagradas Escrituras são tão Sagradas e importantes como a
Eucaristia, pois ambos alimentam e dirigem a vida daqueles que comungam da
palavra e do corpo e sangue do Senhor. Na Santa Missa, primeiro temos a
partilha da palavra na mesa que é chamada ambão e depois a partilha do pão da
vida na mesa do altar. Em ambos nos encontramos com Cristo, mas os dois se
completam e geram em nós uma perfeita comunhão.
Portanto, vivamos o que nos é proposto
pela palavra de Deus e comunguemos dela com ardor e amor, esperando e confiando
sempre que Deus irá nos falar algo e dar-nos uma mensagem de amor e de paz,
pois “A Sagrada Escritura não é algo que pertence ao passado. O Senhor não fala
no passado, mas no presente; ele fala conosco hoje, dá-nos a Luz, mostra-nos o
caminho da Vida, concede-nos a comunhão, e, assim, prepara-nos e abre-nos para
a Paz.” (Bento XVI, 29.03.2006).
“Tua
Palavra é lâmpada para os meus pés, e luz para o meu caminho” (Sl 118,105).
Bibliografia:
Catecismo da Igreja Católica, Vaticano,
1992.
Concílio Vaticano II, documento Dei
Verbum, Roma, 1965.
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